sábado, 19 de junho de 2010

Levantado do Chão

Neste dia, o mundo irá despedir-se de José Saramago.
Lembro aqui o livro que me iniciou na leitura do escritor Prémio Nobel: Levantado do Chão.
Talvez o ser transtagano me tenha levado a fazer dessa obra o livro de estreia. E já que não há amor como o primeiro, continua sendo o meu preferido entre todas as obras de Saramago.
Alentejano, reconheci em João Mau-Tempo, a sina do camponês, trabalhador de uma terra que o latifúndio impede que lhe possa chamar "sua". Cristão, não consegui deixar de identificar na via-sacra de Germano Vidigal a Via-Crucis do próprio Nazareno. Essa imagem de Cristo, que toma o rosto do torturado, foi determinante na minha militância missionária. Para alguns, talvez seja irónico que a leitura de um ateu tenha contribuido para esse reconhecimento. Para mim, não! Tenho consciência de que é, também, nas provocações dos desassossegados que redescubro a inquietação do Cristo que Liberta...
E sei que não sou o único a beber desse manancial de inconformismo que é o "Levantado do Chão". Lembro, a propósito, Chico Buarque e Mílton Nascimento que, inspirados nesta obra, escreveram uma das mais belas e sentidas músicas de apoio aos Sem-Terra, de título homónimo.

Deixo a sugestão de Leitura e, na sequência, também um link para um texto breve, mas lúcido, da autoria de Leonardo Boff. Vale a pena ler: www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100619/not_imp569005,0.php

domingo, 25 de abril de 2010

O "Cheiro Verde" no Vermelho dos Cravos

Hoje, pela primeira vez em muitos anos, saí à rua, em pleno 25 de Abril, sem um cravo vermelho na lapela. Na verdade, estou descontente com o rumo da Revolução, principalmente nos últimos 25 anos. Tenho pena que se tenham perdido muitas conquistas. É o desencanto por tudo o que Abril abriu e os homens, em especial os políticos da "situação", fecharam.
Porém, só não usei um cravo vermelho hoje, simplesmente, porque já não estou no meu Alentejo e acho que as pessoas aqui pela diáspora já não distribuem cravos vermelhos na rua. Circunstâncias da vida...
Mas hoje queria deixar uma explicação em relação ao "cheiroverde" que figura no endereço deste blog.
Cheiro verde é o nome que se dá, no Nordeste Brasileiro (o meu Alentejo do outro lado do mar), aos coentros. No sul do Brasil, a definição é diferente, mas o certo é que a culinária nordestina é abençoada com a utilização dos coentros. Ora, os alentejanos sabemos como os coentros são importantes na gastronomia transtagana.
Transpondo esse cheiro verde para outras dimensões, assim fui definido num recente quiz político: verde, ecologista. Permito-me lembrar a maior referência do movimento ecologista europeu, Petra Kelly, para clarificar a ideia de "verde": "ser terno e, ao mesmo tempo subversivo: isso é o que significa para mim, a nível político, ser verde e agir como tal". Além do mais, como diz Leonardo Boff "a opção pelos mais pobres é uma questão de ecologia". Assim mesmo, considero que não estou muito distante dessas duas definições, por isso a minha atitude na vida tem sempre um cheirinho a "verde".
Voltando ao 25 de Abril... não tive o meu cravo vermelho para usar ao peito, resta-me a esperança de que, pelo menos na sopinha da noite, haja algum aroma a coentros*.
* esp. cilantro; ing. coriander